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sábado, 18 de dezembro de 2010

Um fim de semana com o cão

Pois é. É fim de semana.

Estou na casa  da cidade e o meu marido na casa da aldeia. Deveríamos estar juntos, mas a minha filha F não quis ir. E eu não a posso deixar sozinha. Ela fica muito deprimida quando não tem ninguém a incentivá-la para se vestir e sair de casa.

Desde que F está a fazer tratamento no Hospital Psiquiátrico, os dias têm tido altos e baixos. Nem sempre tem vontade de ir - é preciso motivá-la - e chega sempre extremamente cansada. Vai para a cama por volta das 18 horas, todos os dias. Acho que é desgaste emocional. Julgo que a confrontam com os seus medos, mas não tenho a certeza. Uma das regras do Hospital é não comentar cá fora o que se passa lá dentro, e ela não comenta. Sei apenas que não gosta da terapia de grupo por não querer falar publicamente dos seus problemas e não gostar de ouvir os problemas dos outros.

Para agravar o seu ânimo, o seu cão (seu melhor amigo e confidente)  - um cão de Terra Nova (Newfoundland ou vulgarmente conhecido por Newfie) está muito velho e as artroses já o impedem de se mover com agilidade. Aliás, acho que não fomos para a aldeia porque o cão não conseguiu sair de casa, apesar dos nossos incentivos. Não consegue descer as escadas e tem medo de entrar no elevador. Foi confrangedor ver a ansiedade do bicho em sair, o esforço que fez para se levantar e ao mesmo tempo o medo de entrar no elevador. Todo ele tremia como se sofresse de Parkinson. Estivemos mais de 30 minutos a tentar que ele saísse em direcção ao elevador. Nem ordens, nem biscoitos, nem carinhos... nada funcionou... e o bicho pesa mais de 60 kg!
Por fim, acalmámos e confortámos o cão, tirámos-lhe a coleira e ficámos em casa com ele.

Vai ser uma "catástrofe" para a F quando o seu fiel amigo finalmente partir. 
Este cão acompanhou a sua dolorosa adolescência com a doença de Borderline. Era com o cão que F desabafava. É ao cão que F conta os seus problemas. Fala com ele como se fosse com uma pessoa. É com o cão que F conta para companhia. É ao cão que F se dedica incondicionalmente.
Ela não consegue superar as separações; nem dos brinquedos de criança, nem dos bilhetes de cinema que viu, nem dos panfletos de viagens que fez,  nem das prendas que recebeu ao longo da vida, nem dos frascos de perfume vazios, nem das fotografias, nem...nem... . Não se separa de NADA ! Tudo é IMPORTANTE ! Tudo são MEMÓRIAS!

Tenho receio da sua reacção quando tal acontecer. E vai acontecer dentro em breve !
É um cão de grande porte (classificado de peso "gigante"), e quando não conseguir levantar-se para comer....não haverá alternativa !

Se ao menos os cães mostrassem na sua "cara" os sinais da idade, com as rugas, a pele com manchas, os cabelos brancos, os olhos cavados, os lábios finos, enfim, os sinais exteriores de velhice, talvez F se fosse acostumando ao seu envelhecimento. Mas não ! Os cães mantêm o mesmo focinho sem rugas que tinham 4 ou 5 anos antes, mantêm o mesmo olhar, o pelo não muda de cor. Parecem eternas crianças com vontade de brincar !

Não sei como prepará-la para o inevitável.  Temos abordado o assunto, mas sempre com muita cautela, porque à mais leve insinuação de que o bicho é mortal, a filhota F lava-se em lágrimas !

Queria tanto ter um manual de instruções sobre como lidar com um doente de Perturbação Borderline.....

Eu sei que a perda de um amigo é sempre dolorosa. Não sou insensível ! Mas num doente de Perturbação Borderline, esta perda traz mil vezes mais dor. E esta do pode ser tão insuportável que ... (nem quero dizer o que estou a pensar !)

É estranho... escrevo aqui para sentir que não estou só, para desabafar...Sei que não tenho qualquer eco, mas faz-me sentir melhor do que ficar calada no meu mundo.

Daqui a poucos minutos é Domingo !

A minha outra filha C regressa do estrangeiro, na próxima terça-feira à noite, para passar as festas em Portugal! Já tenho muitas saudades. Não sei se ela vai ter tempo para estar com a família. 
Já vi na sua página do Fecebook que o namorado e todos os amigos a vão "raptar" durante estes dias.
Tenho saudades de quando ambas eram pequeninas e minhas....

Abraços a todos, e até à proxima.








1 comentário:

  1. Será que não seria prudente arrumar um outro cão antes que esse partisse?

    Eu fiquei muitíssimo mal qdo minha gata que também me acompanhou em longos anos de sofrimento, partiu...

    Mas eu já tinha um cachorro, e me dediquei a ele a partir de então...

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